O Pó e o Mármore
Hoje é tempo de mãos desatadas;
Esculturas de papel derretendo no orvalho;
Flanela jogada sobre o parapeito sujo.
Tempo de estátuas de parafina;
Mercadoria vencida na prateleira em escombro;
Tatuagem de rena junto ao bronze de festim.
Devo lançar-me ao acaso?
Posso abraçar então o que me repele?
Sem pretensão de consolo ou conivência o eco me responde:
O desespero não serve a quem abandona a trilha.
Foram-se os anjos em arrodeio;
Avolumam-se nuvens de tempos imemoriais.
Frátrias partidas; cabanas ao vento;
Pombos rasgados ao sol de verão.
Hoje é tempo de falsos homens;
Fotografia esquecida no fundo do armário;
Fartas porções da ração de erro.
Inimigos em fúria arrotam jargões impenetráveis;
Olhos esquivos; Ancião vagando sob a chuva rala.
Os braços se cruzam, mas não se tocam.
As coxas se esbarram e não se sentem.
Desço na praça Rio Branco fantasiado pela paisagem antiga.
Com o velho cinzel me debruço sobre a poeira do asfalto.
Sem umidade ou argamassa lanço o que me inspira ao sol poente.
E, por um segundo de apelo, vejo a miragem estática da chã criatura
Que, introspecta, e ao sabor do pagão chamamento
Lança-me a mão em aventura.
Na imensidão do palco o jovem respira.
Aceita o drama, fecha as cortinas e se desfaz em semente.
Lucas Rodrigues