“Independência ou Permanência”?

Oficialmente a “independência” do Brasil ocorreu no dia 7 de Setembro de 1822. Foi a partir desta data que o Brasil deixou de ser colônia de Portugal e adquiriu sua autonomia política. Não podemos negar a importância desse acontecimento para a história brasileira, entretanto, poucas foram as mudanças nas estruturas socioeconômicas e políticas do Brasil.

No tocante ao social, a nossa independência foi um resultado de acordos entre D. Pedro e as elites. A grande maioria da população, que era constituída de pessoas pobres, não teve participação no processo de emancipação do Brasil. Cidadania é um processo lento dentro da esfera pública, principalmente em nosso país, marcado pelas grandes desigualdades sociais, a exemplo da escravidão.

A economia brasileira ficou submissa aos interesses da Inglaterra, pois esta foi a maior beneficiadora com a independência do Brasil. Não houve incentivo para o desenvolvimento de uma industrialização voltada para produtos manufaturados, pois o Brasil ficou repleto de produtos ingleses. Sua economia continuou voltada para atender o mercado externo, usufruindo da mão-de-obra escrava e concentrada no latifúndio.

No aspecto político, o Brasil foi o único país latino-americano a adotar o regime da Monarquia. Todos os poderes – legislativo, judiciário e moderador, estavam sob o domínio de D. Pedro. Isso reflete o quanto as mudanças foram poucas com a independência do nosso país. No qual o que podemos observar, é muito mais permanências do que reais mudanças, onde uma minoria da população permanece  com elevados poderes aquisitivos, enquanto uma grande maioria da sociedade vive em péssimas condições de vida.

Mas o Piauí? Qual foi sua importância na emancipação do Brasil? O Piauí teve um papel de suma relevância para a história brasileira, porém, pouco conhecido pela historiografia tradicional. A Batalha do Jenipapo, deferida em Campo Maior, é o maior símbolo de resistência dos “cidadãos comuns” contra o domínio dos portugueses. Quantas pessoas perderam suas vidas em nome da pátria, pois não aguentavam mais tamanha submissão e almejavam por melhores condições de vida.

Fico, contudo, refletindo as solenidades que são realizadas, atualmente, no dia 7 de Setembro em Campo Maior para comemorar o dia da independência do Brasil. Nestas solenidades, quem são coroados são os militares. Como se eles tivessem participado das lutas pela emancipação. Estas atitudes praticadas pelos nossos representantes políticos, em coroar os militares em Campo Maior, simboliza uma grande controvérsia da nossa História. Pois no Piauí, diferentemente de muitas regiões, quem de fato lutou pela a  nossa independência foram as camadas populares da sociedade e não os militares liderados pelo sargento Fidié.

Este povo guerreiro ainda hoje vive lutando por uma verdadeira independência, algo que ainda não se consolidou no Brasil. Atualmente não precisamos pegar em armas para reivindicar nossos direitos, preferimos o diálogo, embora, em algumas vezes, os nossos representantes políticos utilizam os militares para massacrar os movimentos sociais.

A fazenda Boa Esperança (hoje José de Freitas) também esteve inserida dentro do contexto da independência do Brasil. Na época da emancipação do Brasil, houve uma grande concentração de forças na fazenda Boa Esperança. Terminada a Batalha do Jenipapo em Campo Maior, o militar português João José da Cunha Fidié, que se deslocava com sua tropa para Estanhado (hoje União), arranchou-se na fazenda Boa Esperança. Permaneceu alguns dias nesta fazenda, onde colocou vigias no alto do morro para observar supostas vindas de   inimigos.

É importante ressaltar que em tempo muito remoto da nossa história a bravura do nosso povo já era constatada antes mesmo da independência do Brasil. Na região onde foi instalada a fazenda Boa Esperança (atual José de Freitas) existia uma grande quantidade de índios, sendo que os conflitos entre portugueses e ameríndios foram constantes. Nessa Guerra os índios foram brutalmente massacrados pelos colonizadores portugueses. Não podemos esquecer de mencionar as mortes praticadas pelos índios, entretanto, eles apenas estavam defendendo suas terras.

Portanto, acreditamos que um dia poderemos usufruir de uma verdadeira independência, onde o verdadeiro conceito de cidadania seja reconhecido pelos nossos representantes políticos. Neste sentido, almejamos uma sociedade com menos desigualdades sociais, e que nunca vamos parar de lutar pelos nossos direitos, independentemente dos obstáculos que iremos encontrar.

Por Elias Sérgio da Cunha (Graduando em História pela Universidade         Estadual do Piauí)