Escola sem papel: será possível?

Na Coreia do Sul sim. Lá os alunos não precisarão carregar mais tanto peso nas costas a partir deste ano de 2015. O governo anunciou neste mês que todo o sistema de ensino será digitalizado. Para ler o conteúdo de um livro ou fazer a lição de casa, bastará ter um tablet ou até mesmo um smartphone. O conteúdo digital faz parte do programa SmartEducation (Educação Inteligente), que terá investimentos da ordem de US$ 2 bilhões. Além de eliminar o uso de livros e cadernos, o programa prevê a criação de salas multimídia com computadores e quadros eletrônicos. As aulas também serão transmitidas em tempo real – o que pode ser o fim da velha desculpa de faltar na escola quando se está doente.

Estudantes sul-coreanos na sala de aula com seus tablets: investimento de US$ 2 bilhões
Estudantes sul-coreanos na sala de aula com seus tablets: investimento de US$ 2 bilhões

A transformação digital da educação coreana é inédita. Nenhum outro país, por hora, prevê tamanha mudança em tão pouco tempo. Nem tanto pela falta de investimentos, mas sim pelo modelo educacional. “A grande maioria dos países tem uma estrutura muito menos centralizada e mais complexa, o que dificulta a padronização e a digitalização da educação”, afirma César Nunes, pesquisador do Núcleo de Pesquisas em Inovação Curricular da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo e diretor da Oort Tecnologia, produtora de material didático digital. Nos Estados Unidos, por exemplo, algumas cidades estão apostando em projetos-piloto com os tablets – a Prefeitura de Nova York comprou dois mil aparelhos. No Estado de Indiana, o ensino da letra cursiva agora é opcional.

Para o especialista César Nunes, a questão mais importante a ser debatida é como usar a tecnologia em sala de aula. “Quando falamos em cadernos e livros digitais, corremos o risco de nos ater apenas a atividades muito guiadas, mais parecidas com o sistema tradicional”, diz. “Mais interessante é pensar em como usar isso focado no desenvolvimento do pensamento e das competências do século XXI.” Encher uma sala de aula de computadores e não saber o que fazer deles é uma história recorrente no mundo educacional. Recentemente, a Espanha investiu em lousas digitais e notebooks em sua rede pública. O que parecia uma iniciativa nobre gerou uma grande confusão, já que a maioria dos professores nem sequer sabia usar o material.

No Brasil, foi lançado oficialmente o Programa Um Computador por Aluno (Prouca) pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.  Dez escolas de cinco cidades receberam 1.390 máquinas para a fase de teste. A segunda etapa levou 150 mil laptops para três mil alunos de mais cinco municípios. Paralelamente, 600 professores universitários foram capacitados para treinar docentes da rede pública a usar o material de forma adequada.

José de Freitas

Em José de Freitas, uma parceria entre Ministério da Educação, a empresa Positivo Informática, o Governo do Estado do Piauí e a Prefeitura inovaram implantando o Projeto Aprendendo com Tecnologia nas escolas urbanas com ensino fundamental I, no ano de 2010. O projeto tinha o objetivo de colaborar para a melhoria da qualidade do ensino e promover a inclusão digital e social de crianças das escolas públicas da cidade. Nele, eram apresentadas soluções compostas por mesas educacionais, softwares, portais educativos, max câmara e lousa interativa. Para utilizar de forma adequada essas novas ferramentas, os professores foram capacitados e acompanhados diariamente por monitores e coordenadores da Positivo Informática e contaram com assistência técnica da própria Positivo.

O projeto surtiu efeito, e logo nos primeiros anos houve uma elevação nos índices de aprovação, como também nos números do IBED nas escolas assistidas pelo programa. Porém, com o passar dos anos, o projeto, antes experimental, não obteve o apoio dos entes governamentais para ter continuidade. A aparelhagem foi sucateando e os professores sendo substituídos, inviabilizando o processo do projeto. Atualmente, um projeto semelhante está sendo testado nas escolas de educação infantil do município.

Outra iniciativa frustrada na cidade foi a entrega de tablets educacionais aos professores do ensino médio das escolas estaduais no município. O projeto foi uma parceria entre MEC e Seduc, mas esbarrou na dificuldade de manuseio da máquina para fins pedagógicos, na falta de cobertura wi-fi nas escolas e na dificuldade de manutenção dos aparelhos. O projeto parece mesmo ter sido muito mais com fins políticos do que pedagógicos.

Da Redação                                      Com informações: Revista Isto É