BRASÍLIA — Com a proximidade do fim da “era Renan Calheiros” no comando do Senado, a cúpula do PMDB deflagrou uma batalha interna pela reacomodação de espaços na bancada e no próprio Senado. As articulações têm envolvido o próprio presidente Michel Temer. O líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), reforçou a movimentação na bancada do partido para consolidar sua candidatura à sucessão de Renan e já negocia postos na Mesa do Senado com outros partidos, como o PT e o PSDB. Nos bastidores, Eunício e Renan têm divergido sobre a nova configuração da Casa: sem o poder de antes, Renan quer ser o novo líder ou presidente da Comissão de Constituição e Justiça do Senado (CCJ), enquanto Eunício prefere fazer Raimundo Lira (PMDB-PB) o novo líder da bancada.
Eunício conseguiu fazer uma dobradinha com Lira e disse a aliados que seu nome é “consenso na bancada”. A irritação de Eunício, segundo aliados, é que Renan ainda trabalha por uma candidatura de Romero Jucá (PMDB-RR) ao comando do Senado, num acordo que envolveria a próxima presidência da Casa, em 2018. O acerto seria em para daqui a dois anos, mas Eunício nem com isso quer se comprometer.
O temor de aliados de Eunício é que Renan queira manter o controle do poder no Senado, através da liderança da bancada e com Jucá na presidência. Eunício, segundo aliados, não quer ser refém da pauta de Renan, que trava uma queda de braço com o Ministério Público e o Judiciário. Neste ponto, Eunício e Jucá concordaram nas semanas finais de votação, sendo contrários às tentativas de Renan de votar os projetos de dez medidas de combate à corrupção, com o texto desfigurado que veio da Câmara, e o que trata da lei que pune o abuso de autoridade.
Peemedebistas como Jucá, líder da bancada, avaliaram que Renan estava agindo por “vingança e com o fígado”. Eunício disse a Temer que se Renan tentar implementar essa agenda haverá “problema”. Na disputa de poder, Renan poderia até ficar com a CCJ, mas foi avisado que a pauta contra o Ministério Público e o Judiciário não teria o apoio de Eunício, caso ele seja o novo presidente do Senado.
As reclamações contra o perfil beligerante de Renan não são novas. Nos momentos difíceis, porém, a cúpula do PMDB sempre acaba se “acertando”, deixando as reclamações e intrigas de lado.
Eunício esteve com Temer na última semana, avaliando o quadro no Senado. Ele teve que desmentir informações de que estaria desistindo de disputar. Raimundo Lira quer ser o líder do PMDB, cargo também cobiçado pelo senador Eduardo Braga (PMDB-AM). Mas Lira ganhou pontos como presidente da comissão de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. O nome do PSDB na chapa de Eunício deve ser o do líder Paulo Bauer (SC). A ideia nas negociações é que o PT indique José Pimentel (CE) para Mesa. Mas Lindbergh Farias (PT-RJ) e outros senadores da oposição ameaçam lançar candidatura alternativa ao comando do Senado. Roberto Requião (PMDB-PR) seria o candidato dissidente das esquerdas.
— Não sabemos. Do PT, pode ser o cargo de primeiro-secretário. É bom lembrar que há gente na bancada que defende uma candidatura alternativa. E, com isso, pode mudar tudo — disse Humberto Costa (PT-PE), informando que o candidato, nesse caso, seria Requião.
Com Renan no foco das investigações da Lava-Jato, Eunício tem afirmado que não é de conflito e que terá uma postura diferente no comando do Senado.
As intrigas são tantas que o líder do PMDB teve que reverter mobilização por Simone Tebet (PMDB-MS) para o comando da Casa. O balão de ensaio ocorreu no dia de encerramento dos trabalhos da CCJ, quando o presidente José Maranhão (PMDB-PB) disse que ela seria um nome novo e excelente para o comando do Senado, com mudança efetiva de grupo.
Eunício ainda procurou a oposição, com conversas com Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e Cristovam Buarque (PPS-DF). Eles são oposição, mas não seriam candidatos.
Renan também esteve em Brasília e conversou com Temer. Segundo aliados, o presidente do Senado quer manter seu poder dentro da Casa, até para ter força como investigado na Lava-Jato.
Também citado na delação de um ex-diretor da Odebrecht, com o codinome de “Índio”, como receptor de R$ 2,1 milhões para defender medidas de interesse da construtora, Eunício disse que não autorizou ninguém a negociar em seu nome favorecimentos a empresas públicas ou privadas.
Fonte: G1