O cantor e compositor Belchior, expoente da música popular brasileira por suas letras contestatórias, melancólicas e irônicas, morreu neste sábado aos 70 anos. De acordo com os jornais O Povo e Diário do Nordeste, do Ceará, Estado natal do músico, os familiares não divulgaram a causa do falecimento que ocorreu na cidade de Santa Cruz, no Rio Grande do Sul. O governador cearense, Camilo Santana, disse em nota de pesar que “o povo cearense enaltece sua história, agradece imensamente tudo que fez e pelo legado que deixa”.
O compositor, autor de sucessos como Medo de avião, Velha roupa colorida e Apenas um rapaz latino-americano teve o auge da carreira nos anos 70, com discos próprios e gravações de intérpretes como Elis Regina, que transformou Como nosso pais, composta pelo cearense, em hino de uma época. Em 1976 gravaria o disco Alucinação, que o consolidaria no cenário musical nacional, ao lado de outros músicos conhecidos como “pessoal do Ceará”. “Belchior trancou a matrícula no curso de medicina e se mandou, cantou na ‘barra pesada’ e venceu com Hora do almoço um festival universitário de âmbito nacional. Era o começo. Jorge Melo foi um dos primeiros a emigrar. Ednardo e Fagner foram depois. O Ceará invadia, mas logo começaram as dificuldades da luta contra os rótulos. Depois dos baianos, a tendência era classificar a partir da procedência. E foi difícil convencer que não se tratava de um grupo cearense, mas de pessoas que embora tendo nascido no mesmo lugar, e apesar das dificuldades e afinidades, seguiam caminhos diferentes e tinham recados diversos a dar”, escreveu, em 1977, no Jornal da Música, do Rio, o escritor, professor e crítico Gilmar de Carvalho.
Turbulências e desaparecimento
Belchior enfrentou turbulências nos últimos anos, recluso e fora do palcos. Em 2009, ganhou as manchetes depois que sua ex-mulher contratou um advogado para cobrar supostas dívidas e pensão devidas pelo cantor. “Para a família, Belchior está sumido desde 2007”, calculava o advogado da ex-mulher de Belchior Leonardo Scatolini na TV, naquele ano. Belchior chegou a falar com o programa Fantástico, desde o Uruguai, informando que trabalhava no país em traduções da suas canções para o espanhol. “Sou um rapaz latino-americano”, disse.
Mesmo cultuado, Belchior recusou os convites para voltar aos palcos. Nos últimos anos, se popularizaram no Ceará e em outras partes os dizeres “Volta, Belchior” em muros. No Carnaval deste ano, ele foi homenageado em blocos em São Paulo e em Fortaleza.
Análise preliminar indica que Belchior morreu em razão do rompimento da artéria aorta, disse neste domingo (30) a delegada Raquel Schneider. Raquel falou com o médico do IML da cidade de Cachoeira do Sul, responsável pela necropsia em Belchior.
Fonte: G1