ESCOLA DE TEMPO INTEGRAL
Arnaldo Eugênio (Sociólogo / Doutor Antropologia- PUC-SP)
As constantes transformações multidimensionais nas sociedades humanas têm inserido novas práticas de sociabilidade e novas formas de relações e interações sociais. O mundo globalizado e as novas tecnologias de informação – p.ex. a internet – influenciam nos modos de relacionamento e de comportamento dos estudantes que hoje frequentam a escola pública. É uma nova geração, incrementando novos desafios, responsabilidades e descobertas para a educação pública. Esses incrementos ultrapassam – e muito – os compromissos e funções da escola pública de anos antes.
Nesse novo contexto social surge a noção de jornada em tempo integral, objetivando oferecer aos alunos da rede pública uma formação que contemple tanto os conhecimentos tradicionais quanto os conhecimentos artísticos na perspectiva do desenvolvimento de uma personalidade criativa e cidadã.
As Escolas de Tempo Integral – ETI’s estão sendo organizadas no Brasil por iniciativa de governos estaduais – em São Paulo, desde 2005 -, cuja intenção é oferecer melhores condições de educação ao alunado. Esse tipo de escola foi uma idéia difundida por educadores brasileiros como Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro, há mais de 50 anos.
Fundamentada na teoria construtivista de Jean Piaget e no interacionismo de Lev Semyonovitch Vigotsky, a proposta pedagógica, pretende oferecer uma alternativa educacional holística e centrada nas necessidades, interesses e capacidades do alunado. A essência da proposta é ampliar o tempo de permanência dos estudantes na escola; aumentar o espaço utilizado para a educação – com a utilização de ambientes da comunidade e da localidade -; melhorar a qualidade da aprendizagem; trazer mais atores sociais para dentro das escolas.
Politicamente, as ETI’s demonstram uma estratégia pela popularização da educação – Programa Mais Educação, uma das ações do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) –, no sentido de uma escola universal de qualidade que prepare o cidadão para a vida, com integração dos conhecimentos em abordagens interdisciplinares, transdisciplinares e transversais.
As ETI’s oferecem três refeições: lanche pela manhã, almoço e lanche à tarde para tentar garantindo melhores condições para o aprendizado. Pela manhã, aulas de todas as disciplinas do núcleo comum, e à tarde, oficinas culturais (dança, música, teatro e artes plásticas), e atividades esportivas (atletismo, ginástica, xadrez e jogos cooperativos). Haverá também orientação à pesquisa e aos estudos, aulas de resolução de problemas matemáticos, hora da leitura, aulas de informática, práticas em salas ambiente de ciências físicas e biológicas, práticas de educação ambiental e qualidade de vida. O alunado entra no início da manhã e sai no fim de tarde.
Os professores comunitários – das atividades meio – recebem uma ajuda de custo de R$ 240 mensal. Em contrapartida, devem dar oficinas de 15 horas semanais para os estudantes. As próprias escolas escolhem as oficinas que pretendem desenvolver e também ficam responsáveis pela seleção dos professores comunitários. O Ministério da Educação, por sua vez, repassa os recursos para a implementação das oficinas por meio do Programa Dinheiro Direta na Escola (PDDE). Desde 2009, as escolas que se declarem no Censo Escolar que funcionam em tempo integral recebem um acréscimo de recursos do Fundo da Educação Básica (FUNDEB) de 25% para o custeio das atividades.
Entre os grandes desafios para implementação das ETI’s destacam-se: construir prédios públicos escolares estruturados; elaborar um conjunto de metodologias diversificadas; ampliar o aproveitamento escolar; resgatar a auto-estima dos estudantes; capacitar os profissionais da educação; atingir a efetividade no processo ensino-aprendizagem; tornar-se uma alternativa para redução dos índices de evasão, de repetência e de distorção idade/série; ampliar o universo de experiências artísticas, culturais e desportivas; oportunizar o acesso escolar a crianças e adolescentes de baixo poder aquisitivo.