Quem ganha e quem perde nas eleições municipais?

As eleições municipais de 2016 deixam algumas pistas de como será a disputa presidencial em 2018, mas nada muito claro ainda, de acordo com os analistas políticos que participaram da cobertura do UOL neste domingo (30).

Imagem: uol
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LULA e o PT

Com as perdas do PT (Partido dos Trabalhadores) em todo o país, fica a dúvida sobre uma possível candidatura do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva à Presidência da República e sobre quem poderá herdar o capital eleitoral que ele possa vir a deixar.

O blogueiro do UOL Josias de Souza acha que não é mais viável que Lula enfrente a disputa pelo PT.

“É muito cedo para a gente dizer quem vai ser candidato forte em 2018. O Lula não é mais candidato ou não reúne mais condições para ser o candidato do PT em 2018, e você tem a Lava Jato, que fez com que o noticiário político migrasse da editoria de política para a editoria de polícia, e agora vai migrando gradativamente para aquela seção do jornal onde são publicados os avisos fúnebres. Algumas candidaturas já estão mortas, a candidatura do Lula está morta”, afirma.

O cientista político do Insper Carlos Melo concorda: “as condições do ex-presidente Lula são muito complicadas para que ele possa vir a ser candidato. Mas quem herda esse contingente de votos do Lula?”, questiona.

É bem difícil, os dois afirmam, estabelecer quem poderia obter vantagens com uma não candidatura do petista. O cenário, por enquanto, apresenta muitas dúvidas. E uma delas é que leva tempo para construir uma trajetória como a do ex-presidente.

“O Lula disputa uma eleição em 1982, perde, disputa eleição em 1989, 1994, 1998…, ele vai ganhar 20 anos depois. Para o PT chegar ao poder nacional, são 20 anos de trajetória. No caso do PSOL, nós temos a primeira aparição –e ainda localizada– na cidade do Rio de Janeiro. Imaginar que agora toda aquela base eleitoral do PT vá para o PSOL, acho que é precipitação”, diz Melo.

LIDERANÇAS REGIONAIS

Ainda é cedo para avaliar quem teria condições de herdar um espólio do PT também na opinião do blogueiro do UOL Leonardo Sakamoto, para quem o partido ainda poderá lançar em 2018 seus grandes nomes tradicionais.

“Aqui em São Paulo, tivemos o Eduardo Suplicy como o mais votado da Câmara de Vereadores. É cedo para decretar a falência do PT”, afirma.

Mas lideranças regionais que despontam agora podem representar futuros refúgios desses eleitores, avalia.

“No Ceará, a família Gomes mantém o seu poder sobre Fortaleza. Flávio Dino, no Maranhão, consolida a vitória de um aliado na capital, São Luís, com mais prefeituras do que o Sarney no Estado. O próprio Marcelo Freixo, no Rio de Janeiro, com o PSOL elegendo a segunda maior bancada no Rio.”

AÉCIO NEVES (PSDB)

Embora o PSDB tenha obtido um resultado positivo nas eleições municipais, seu presidente nacional, o senador Aécio Neves, teve um resultado “ultranegativo”, na avaliação de Josias de Souza. O tucano mineiro enfrentou hoje a terceira derrota consecutiva em seu quintal eleitoral, com a vitória de Alexandre Kalil (PHS) em Belo Horizonte. As outras derrotas ocorreram na eleição para o governo do Estado, quando foi eleito Fernando Pimentel (PT), e quando Aécio recebeu menos votos em seu berço eleitoral do que os conquistados pela ex-presidente Dilma Rousseff nas eleições de 2014.

“Aécio tem que enfrentar agora um paradoxo: ele acha que é uma coisa, mas a realidade está mostrando que ele é outra coisa diferente. Ele acha que é o candidato natural do PSDB à presidência em 2018. A realidade mostra que ele já não é o candidato natural”, afirma o blogueiro, uma vez que Geraldo Alckmin, governador de São Paulo, e o ministro José Serra também constam na lista de presidenciáveis do partido.

GERALDO ALCKMIN (PSDB)

Na avaliação do cientista político Carlos Melo, não está em casa a dificuldade do governador Alckmin, cujo aliado João Doria conquistou a Prefeitura de São Paulo.

“O governador Alckmin ganha em São Paulo, mas tem um grande problema, que é para fora de São Paulo. Ele é muito forte em sua terra, mas tem muita dificuldade para fora. Ao contrário do Aécio, com fragilidade na sua terra, mas com uma certa fortaleza para fora.”

As próximas batalhas do partido tucano antes de decidir quem vai para o topo da lista presidenciável devem ser: a liderança na Câmara, a presidência da Câmara e a presidência do próprio PSDB, na opinião de Melo.

JOSÉ SERRA (PSDB)

O senador presidenciável não participou de campanhas de aliados e companheiros neste segundo turno. Seu nome também é citado na lava-jato.

MICHEL TEMER (PMDB)

Apesar do seu partido, o PMDB continuar como o maior partido do país em número de prefeituras, o Presidente Temer tem um alto índice de rejeição dos brasilleiros: 39% rejeitam seu governo. Além disso, caciques do partido perderam força regional em seus estados, a exemplo dos Sarneys – MA, Renan Calheiros – AL e Marta Suplicy em São Paulo. Conta também, envolvimento de seu nome em delações da Lava-jato.

CIRO GOMES (PDT)

O ex-ministro e ex-governador Ciro Gomes é considerado pelos analistas políticos como um dos “vitoriosos regionais” nas eleições 2016. E hoje tem o domínio de um partido nacional, que é o PDT.

“Já há dentro do PT inclusive esforços para um comitê Ciro 2018′, diz o cientista político do Insper.

“Herdando alguma parte desse capital do Lula, o Ciro poderá estar no segundo turno. O que a gente pode dizer é que hoje, 30 de outubro de 2016, a eleição 2018 começou. Mas ela já começa não com um grid de largada definido, mas com uma enorme disputa para ver quem é que vai chegar a esse grid de largada. A primeira impressão que nós temos é o que o PT não estará lá”, conclui.

MARINA SILVA (REDE)

Em sua primeira disputa eleitoral, após um ano de criação, o Rede Sustentabilidade obteve vitória em uma capital do país. O partido é liderado pela ex-ministra e ex-senadora Marina Silva.

Filiado à Rede em março, o prefeito de Macapá, Clécio Luis (Rede), 44, foi reeleito neste domingo (30). Com 44,59% dos votos, ele derrotou no segundo turno o ex-senador Gilvam Borges (PMDB), que teve 26,37%.

Ainda no segundo turno, a Rede venceu a disputa pela Prefeitura de Serra (ES), onde o prefeito Audifax Barcelos (ex-PSB) foi reeleito. No primeiro turno, o partido de Marina Silva havia vencido em Lençóis Paulista (SP) e Cabo Frio (RJ), e nos municípios baianos de Brejões, Livramento de Nossa Senhora e Seabra.

JAIR BOLSONARO (PSC)

O deputado federal Jair Bolsonaro (PSC), que apoiou Crivella (PRB) para a Prefeitura do Rio de Janeiro no segundo turno, e que é pai do deputado estadual Flávio Bolsonaro (PSC), que ficou em quarto lugar no primeiro turno com 424.307 votos, também é uma força que pode surpreender nas eleições de 2018. Com discurso ultra-direitista, Bolsonaro tem o apoio de boa parte dos evangélicos do país.

Adaptação e Fonte: UOL