JBS e BRF doaram R$ 104 milhões para PP e PMDB em 2014, partidos alvos da investigação Carne Fraca

As empresas investigadas na operação Carne Fraca, a JBS, dona da Friboi e da Seara, e a BRF, dona da Sadia e da Perdigão, doaram R$ 104,36 milhões para o PP e o PMDB na campanha de 2014, de acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Os dois partidos são investigados no esquema de corrupção que teria como beneficiários os dois partidos, de acordo com a Polícia Federal.

No total, as duas empresas doaram R$ 393 milhões para 25 legendas nas eleições daquele ano.

JBS

De acordo com a prestação de contas à Justiça Eleitoral, a JBS doou R$ 99,88 milhões a campanhas das duas legendas, sendo R$ 62,64 milhões para o PMDB e R$37,24 milhões para o PP.

Três governadores peemedebistas eleitos contaram com a contribuição da empresa. José Ivo Sartori (Rio Grande do Sul) recebeu R$ 2,5 milhões da JBS e outros R$ 199,99 mil da BRF. Suely Campos (Roraima) e Marcelo Miranda (Tocantins) arrecadaram R$ 200 mil da JBS, cada um.

Candidato derrotado ao governo da Paraíba, Vital do Rêgo contou com R$ 1 milhão da JBS. Investigado na Operação Lava Jato, ele é ministro do Tribunal de Contas da União desde dezembro de 2014.

Ministro da Justiça e deputado federal licenciado, Osmar Serraglio (PMDB-PR), recebeu R$ 200 mil da companhia, pelo partido.

Em conversa capturada pela Polícia Federal o peemedebista chama o fiscal agropecuário Daniel Gonçalves Filho, superintendente do Ministério da Agricultura no Paraná entre 2007 e 2016, de “grande chefe”.

Daniel é apontado como “líder da organização criminosa” pelos investigadores. No diálogo, Serraglio alerta Daniel sobre uma inspecção em um frigorífico em Iporã (PR).

Dona da Friboi, a JBS tem 235 mil funcionários, receita líquida em 2016 de R$ 170,40 bilhões e exportava para cerca de 150 países.

De acordo com as investigações, um funcionário da Seara dava dinheiro e produtos a servidores do Mapa em troca da emissão de certificados, sem a devida fiscalização, para a venda e a exportação de produtos.

A JBS informou, em nota, que a sede não foi alvo dessa operação e que “no Brasil e no mundo adota rigorosos padrões de qualidade, com sistemas, processos e controles que garantem a segurança alimentar e a qualidade de seus produtos”.

BRF

Já a BRF contribuiu com R$ 4,48 milhões para os dois partidos investigados na Operação Carne Fraca nas campanhas de 2014, sendo R$ 3,5 milhões para o PMDB e R$ 1,13 milhão para o PP.

Além de Sartori, outro governador beneficiado foi Renan Filho, que recebeu R$ 1,3 milhão. Candidato ao governo de Alagoas, o peemedista é filho de Renan Calheiros, líder do PMDB no Senado e ex-presidente da Casa.

Com 105 mil funcionários, a BRF teve receita líquida de R$ 3,7 bilhões em 2016. De acordo com a PF, há indícios de que executivos da empresa ofereciam vantagens a fiscais do Mapa para afrouxar a fiscalização. A companhia exportava para cerca de 150 países.

Segundo despacho da Justiça, o gerente de Relações Institucionais da companhia, Roney Nogueira dos Santos, teria negociado a liberação ilegal de carne de frango com salmonela com fiscais do Ministério da Agricultura.

A unidade da empresa em Mineiros (GO) foi interditada temporariamente até que a BRF possa prestar informações.

A empresa afirmou que “assegura a qualidade e a segurança de seus produtos e garante que não há nenhum risco para seus consumidores”.

Entenda a Operação

Deflagrada na última sexta-feira (17), a Operação Carne Fraca investiga um esquema de corrupção entre frigoríficos e fiscais agropecuários do Ministério da Agricultura nos estados do Paraná, Goiás e Minas Gerais.

Aproximadamente 1100 policiais federais cumpriram 309 mandados judiciais, sendo 27 de prisão preventiva, 11 de prisão temporária, 77 de condução coercitiva e 194 de busca e apreensão em residências e locais de trabalho dos investigados e em empresas supostamente ligadas ao esquema, segundo a Polícia Federal.

Executivos do frigorífico JBS e da empresa BRF Brasil foram detidos e a Justiça mandou bloquear até R$ 1 bilhão dos investigados. As ordens judiciais foram expedidas pela 14ª Vara da Justiça Federal de Curitiba, no Paraná.

De acordo com as investigações, foram encontradas diversas irregularidades em frigoríficos, como reembalagem de produtos vencidos, excesso de água, inobservância da temperatura adequada das câmaras frigoríficas, venda de carne imprópria para o consumo humano e assinaturas de certificados para exportação fora da sede da empresa e do MAPA, sem checagem in loco.

Também foi constatado o uso de produtos cancerígenos em doses altas para ocultar as características que impediriam o consumo pelo consumidor, de acordo com a Polícia Federal.

Prejuízo

A Comissão Europeia, braço Executivo da União Europeia, pediu nesta segunda-feira (20) que as autoridades brasileiras suspendam as empresas exportadores investigadas pela Polícia Federal.

A China também confirmou que suspendeu temporariamente desde o domingo (19) as importações. Medidas semelhantes foram tomadas ainda pelo Chile.

Na sexta-feira, as ações da BRF caíram 7,25% na sexta-feira e os da JBS despencaram 10,59% no mesmo dia.

Críticas à Operação

Nesta segunda-feira, o presidente Michel Temer voltou a minimizar as irregularidades nos frigoríficos. “Temos cerca de 4.800 plantas de frigoríficos no Brasil, só três plantas foram interditadas, e além delas mais 18 ou 19 serão investigadas”, afirmou durante discurso em evento da Câmara de Comércio Americana.

No fim de semana, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi criticou a PF por supostos “erros técnicos” cometidos na Operação Carne Fraca.

Segundo Maggi, práticas consideradas proibidas pelos investigadores na verdade são legais. “Está claro no áudio (das conversas dos investigados) que estão falando de embalagens, e não de misturar papelão na carne (…) Senão, é uma idiotice, uma insanidade, para dizer a verdade”, afirmou após encontro entre ministros, associações de produtores e exportadores e 33 embaixadores de países que mais importam carnes do Brasil, neste domingo (19).

De acordo com o ministro, “está escrito no regulamento” que a carne de cabeça de porco pode ser usada e que o ácido ascórbico, divulgado como cancerígeno pela PF, “é vitamina C e pode ser utilizado em processos”.

Escolhido para comandar o Ministério da Justiça em fevereiro, Osmar Serraglio afirmou, em nota, que “se havia alguma dúvida de que, ao assumir o cargo, interferiria de alguma forma na autonomia do trabalho da Polícia Federal, esse é um exemplo cabal que fala por si só”.

Fonte: msn