ARTIGO: AS DROGAS E AS VIOLÊNCIAS

POR: ARNALDO EUGÊNIO (Sociólogo/Doutor Antropologia- PUC-SP)

Atualmente, há evidências empíricas de que a sociedade brasileira está entre as sociedades com os mais altos índices de violências urbanas do mundo – assaltos, seqüestros, tráfico de drogas e armas, corrupções, extermínios, estupros, homicídios.

Drogas e violência

No contexto atual do fenômeno das violências no país – especificamente ao tráfico de drogas -, os discursos de autoridade estão na contramão do que é fundamental: o Estado e a sociedade podem incorporar a evidência de que tanto o tráfico quanto o uso de drogas é um problema de todos nós, sem raridades ou exceções.

Segundo a Organização Mundial da Saúde, “droga é toda a substância que, introduzida em um organismo vivo, pode modificar uma ou mais de suas funções”. Ou ainda, o nome genérico de substâncias químicas, naturais ou sintéticas, que podem causar danos físicos e psicológicos a seu consumidor. Seu uso constante pode levá-lo à mudança de comportamento e à criação de dependência, desejo compulsivo de usar a droga regularmente, ao mesmo tempo em que o usuário passa a apresentar problemas orgânicos decorrentes de sua falta.

Em geral, as drogas não são recentes entre os humanos. Elas sempre existiram em inúmeras culturas. Um aspecto relevante é que, hoje, tem-se a ênfase dada pela lei, diferenciando as drogas lícitas (cigarro, álcool, medicamentos), que pagam impostos, das ilícitas (maconha, cocaína, crack, ecstasy, entre outras). Do ponto de vista médico, porém, esta diferença não existe. Equivocadamente, o Estado tem adotado instrumental e conceitos na interpretação das causas e conseqüências das violências associadas às drogas – tanto lícitas quanto ilícitas. Tais violências têm uma relação com a globalização do crime. A militarização e a adoção de políticas sociais imediatistas, movidas pela comoção midiática, apenas mascaram a realidade.

Primeiro, em muitos casos, as violências movidas por drogas se constituem mais em reações a outras violências do que em ações fundadoras de violências.

Segundo, a crença limitada de que, no Brasil, o aumento do uso de drogas deve-se unicamente aos adolescentes – principalmente, com a cultura jovem na década de 1960 – é mais um erro gravíssimo de perspectiva para compreensão do fenômeno. Existem pesquisas que demonstram que, os jovens cujos pais fazem uso contínuo de drogas – álcool, tranquilizantes, fumo, sedativos, anfetaminas – são mais inclinados do que outros a usar outras drogas.

Terceiro, por circunstâncias sociais e econômicas, o uso da maconha, álcool, fumo, LSD, “cola de sapateiro”, anfetaminas, calmantes, heroína, cocaína, crack, PCP (“pó de anjo”), quaaludes e outros produtos que ingressaram mais recentemente no campo das drogas da juventude, se disseminam de forma seletiva.

Quarto, indicar a família – ou a ausência desta – como o principal fator para a juventude aderir ao uso de drogas é outro erro. Conforme esclarece o Psiquiatra Ronaldo Laranjeira, “vários fatores levam uma pessoa ao vicio – a personalidade, os amigos e até facilidade de conseguir drogas. A família exerce influência. Mas, até certo ponto”.

Quinto, estudos realizados pelo Hospital das Clínicas da USP revelam que são vários os fatores para que o adolescente seja considerado uma população de alto risco para o consumo de drogas. A maioria começa a ter contato com estas substâncias quando entra na adolescência e começa a definir suas amizades. Eles estão passando por uma transformação física e mental que poderá gerar maior ou menor sofrimento psíquico, de acordo com o contexto onde este estiver inserido e de suas características individuais.

À procura de sua identidade, o adolescente torna-se uma presa de fácil manipulação, tanto a nível grupal, como pela mídia, a qual estimula, por exemplo, o uso do álcool e do tabaco, apresentando-os como sinônimos de status e sucesso. Além disso, o adolescente apresenta um sentimento básico de solidão, de carência afetiva de sua infância, de sua relação com os pais ou de suas próprias vivências. Há um desejo a ser saciado; uma vontade de ser amado e reconhecido.

profarnaldoeugenio@ibest.com.br